(PDF) PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAISlivros01.livrosgratis.com.br/cp055634.pdf · 3.1.1 “La composición del relato ... do território e do texto. ... A primeira semana - DOKUMEN.TIPS (2023)

  • PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LETRAS

    Espaos de represso:

    retratos de in/excluso

  • Livros Grtis

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  • Mary Mrcia Alves

    Espaos de represso:

    retratos de in/excluso

    Tese apresentada ao Programa de Ps

    em Letras da Pontifcia Universidade Catlica de

    Minas Gerais, como parte dos requisitos para

    obteno do grau de Doutor em Literaturas de

    Lngua Portuguesa.

    Orientadora: Prof. Dr. Ivete Lara

  • Tese defendida publicamente no Programa de Ps-graduao em Letrasda PUCMINAS e aprovada pela seguinte Comisso Examinadora:

    Prof. Dr. Regina Dalcastagn UNB

    Prof. Dr. Maria Zilda Ferreira Cury UFMG

    Prof. Dr. Elzira Divina Perptua PUC MINAS

    Prof. Dr. Maria Nazareth Soares Fonseca PUC MINAS

    Prof. Dr. Ivete Lara Camargos Walty Orientadora PUC MINAS

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Programa de Ps-graduao.

    A meus Professores, em especial.

    banca examinadora.

    Prof. Ivete, muito em especial.

    A meus Anjos da guarda e

    A Deus.

  • SUMRIO

    Lista de ilustraes........................................................................

    Resumo........................................................................................

    Epgrafe........................................................................................

    Introduo....................................................................................

    PARTE I

    CAPTULO 1 Antologias: Mapas e Identidades..........................................

    CAPTULO 2 Ambgua Amrica Latina.........................................................

    2.1 A identidade em questo.....................................................................2.2Limiares da in/excluso..........................................................................2.3Ir/realidades e re-a-presentaes....................................................................PARTE II

    CAPTULO 3 Con/texto e Amrica......................................................3.1 Alegricos.........................................................................3.1.1La composicin del relato.......................................3.1.2 O colecionador desombras ..........................................3.1.3 El lado deafuera .....................................................3.1.4Los lados de la frontera............................................3.2 Realistas........................................................................................................3.2.1Violncia e paixo.........................................................3.2.2Linha do tiro...................................................................3.2.3La perra.........................................................................3.2.4El detector.....................................................................

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 Caleidoscopio (1)...............................................

    FIGURA Parte I Amrica Latina via satlite ...............

    FIGURA Parte II Amrica Latina via satlite ................

    FIGURA 2 Dal de espaldas, pintando a Gala de espaldas,eternizada por seis

    crneas virtuales provisionalmente reflejadas

    espejos.......................................................................

    FIGURA 3 La casa de la colina..........................................................

    FIGURA 4 Mosaico (1).......................................................................................

    FIGURA 5 Mosaico (2)........................................................

    FIGURA 6 Caleidoscopio (2)...............................................

  • Resumo

    Eleita a obra, Gerao 90 manuscritos de computador brasileirossurgidos no final do sculo XX, em sua relao com a latinoamericanodel siglo XXI las horas y las hordas, Espaos de represso: retratosde in/excluso analisa a configurao do espao latinomltipla emultifacetada, tendo por referncia a questo da dicotomia in/exclusoem sua significao sociopoltica e mtico-histrica. Relaciona, ainda,tais espaos com aqueles, propriamente textuais, observando otrnsito do escritor, construtor desses espaos e parte integrante dojogo de identidades que a se constitui, tanto no nvel do enunciadocomo no da enunciao.

    Linha de pesquisa: Identidade e alteridade na Literatura

    Palavras-chave: Amrica Latina; Antologias; Excluso;Identidades.

  • INTRODUO

    Nosso sculo, marcado pelo crescente fenmeno da mundializao, comoo definem

    uns, ou da globalizao, como o nomeiam outros, e suas exignciasde flexibilizao de

    fronteiras econmicas, polticas e culturais, faz com que aAmr

    carter de heterogeneidade cultural e multiidentitria, deinteratividade, seja tnica, seja

    lingstica. Seus paradoxos e/ou contradies aparecem como valoresimportantes na

    dilatao dos circuitos comunitrios entre as naes.

    A cultura latino-americana, hoje, busca redimensionar esseuniverso caleidoscpico

    que, cada vez mais, move-se em direo a uma perspectivamultiidentitria.

    Qual , ento, o papel reservado Amrica Latina, nesse espaoglobalizado, onde, ao

    lado das trocas econmicas e culturais, ainda predominam relaesdesiguais, j que,

    no dizer de Nstor Canclini (2000, p.34), certas tendnciasglobalizadoras da economia

    reforam algumas fronteiras, ou levam criao de outras novas?Nesses novos

  • Tomando como objeto os livros Gerao 90 manuscritos decomputador

    melhores contistas brasileiros surgidos no final do sculo XX

    Editorial, em 2001 e Antologa del cuento latinoamericano delsiglo XXI

    hordas, publicada em 1997, pela Siglo Veintiuno Editores, temoscomo objetivo

    investigar, a partir da relao entre in/excluso, em suasignificao sociopoltica e

    mtico-histrica, alguns dos mltiplos traados de um territrio emsua identidade

    mltipla e multifacetada.

    Organizado pelo escritor Nelson de Oliveira, o livro Gerao90

    computador nos pe em contato com textos de diversos autoresbrasileiros. Compilada

    por Julio Ortega, que tambm escritor, a Antologa del cuentolatinoamericano

    coloca-nos diante de textos produzidos por escritores dediversos pases da Amrica

    Latina.

    Atravessada por tendncias de um tempo e um espao, o da enunciao,qualquer

    seleo , porm, inevitavelmente, pessoal. Diante de uma seleo denomes (e

    histrias) que vo compor uma antologia, coloca-se a problemticado gosto (que,

  • Faltou, alm do Paraguai, o Brasil, o que j suscita uma perguntasobre a configurao

    do territrio e do texto. Da Amrica Central e Caribe apenas trspases aparecem

    (Porto Rico e Cuba com trs autores cada um e Honduras com dois).De qualquer

    forma, h representantes, entre os autores, desde o norte at osul do continente, no

    caso das duas antologias. Autores que, buscando formas deconstruo do gnero

    conto, em uma escrita que constri diferentes espaos e tempos,deixam nela a marca

    de variadas vozes. Ora, em tom realista, focam-se as misriasdirias e/ou seculares,

    ora, na busca de se evitar o trauma de origem de terraespoliada, fala

    metalingsticamente, da prpria Literatura.

    H, j de incio, que se relativizar uma possvel dicotomia.Compagnon (1999) nos

    ensina: nem tanto ao mar, nem tanto terra. Consideramos oportunoevadirmos dessa

    lgica binria em que ou a Literatura fala do mundo, ou fala desi, e ponderar que, se

    o ser humano desenvolveu suas faculdades de linguagem, paratratar de coisas que

    no so da ordem da linguagem (COMPAGNON, 1999, p.126). Ou seja,mesmo

    quando a Literatura fala de si prpria, no deixa de falar domundo, pois a linguagem

    existe para que o homem consiga lidar com (SANTIAGO, 2001) arealidade. Nesse

  • contos. Joo Batista Melo, por exemplo, experimenta, no longoconto

    de sombras, o modelo dramtico, Dostoievski. Marcelino Freirelana mo da

    intensidade e da inverso de sentidos, tal como se assoma, nobreve conto

    tiro. O leitor depara, ainda, com Cu negro, extensa narrativaque Rubens Figueiredo

    constri, a partir do olhar do excludo e com a sucesso de textoscurtos que, no conto

    de Fernando Bonassi, Violncia e paixo, permite multiplicarmarcas autorais e

    desconfiar dos pontos de vista. Acrescente-se, mesmo, o contofragmentrio de

    representao urbana de Autobiografia com giz, de Pedro Salgueiro,ou o conto de

    Mauro Pinheiro, A primeira semana depois do fim, dedicado a JooAntnio e

    solido da sua morte, numa referncia ao processo criador e prpriaLiteratura, entre

    outros.

    Na Antologa del cuento latinoamericano, no poucos autoresutilizam

    irnica, como Rodrigo Fresn, enquanto outros, atravs daidentificao de tipos

    diversos, denunciam a desumanizao, caso de Cristina Civale.Outros tantos temas,

    como a incerteza, o rechao, a marginalidade, o tempo inexistenteou a impossibilidade

    de socializao, incluem-se em vrios relatos como os de AlbertoFuguet e Daniel

  • adquirir uma identidade, to convencional, talvez, como ainstitucionalizada e

    dominante; ou a dependncia de drogas, ou o alcoolismo queaniquila o que h de

    humano em uma pessoa, como em Lina Luna, oaxaquea, en laprisin

    mexicano Francisco Hinojosa, em que tambm se observa o estigmacarregado pelo

    presidirio, ou a cultura mesma das prises. Ainda se avultam osdanos provocados por

    um colapso nervoso (El detector, do venezuelano Federico Vegas),deixando a

    pessoa no limiar da represso psicolgica e a desinstitucionalizaoirresponsvel,

    entre a paralisao da alma e a anulao do desejo ou da identidade.Ou ainda, a falta

    de dinheiro para pagar as contas (La brocha gorda, do mexicanoDavid Toscana), ou

    a ilegalidade que da pode decorrer e acabar transformando oindivduo num sem

    num sem-ptria, num sem-identidade. At mesmo um puro azar com ochefe, ou um

    policial, pode desencadear uma srie de eventos que atiram apessoa margem da

    sociedade; melhor dito, que evidenciam a margem onde ela seencontra, a partir de

    ento. Qualquer que seja a margem, quase sempre habitada porfarrapos humanos,

    cmica, irnica e, inversamente, retratada como em

    mexicano scar de la Borbolla.

  • Para repensar, panoramicamente, o cenrio de travessia entresculos/milnios e

    delinear o jogo de in/excluso e resistncia na Literatura daAmrica Latina, no

    deste trabalho, incluem-se cinco autores, constantes daantologia brasileira e,

    dialogando com eles, outros seis extrados da de JulioOrtega.

    Outra vez a polmica do gosto, pois..., como dissemos, qualquerseleo

    inevitavelmente pessoal, ainda que marcada por uma tendncia ouum propsito. A

    ttulo de organizao, relacionamos em seguida, em ordem alfabtica,o ttulo dos

    textos e os autores, selecionados para este estudo. procednciados mesmos

    agregamos dados cronolgicos, atravs dos quais possvel verificar,rapidamente, seu

    ano de nascimento e a data da publicao e realizao de suanarrativa.

    Bonassi, Fernando (Brasil, 1962); Violncia e Paixo (2001,

    Chernov, Carlos (Argentina, 1953); La composicin del relato(1991,

    Freire, Marcelino (Brasil, 1967); Linha do tiro (2001, Gerao90

    Fresn, Rodrigo (Argentina, 1963); El lado de afuera (1991,

    Melo, Joo Batista (Brasil, 1960); O colecionador de sombras(2001,

  • Em termos quantitativos, nossa seleo deve-se a que nospropomo

    desses autores, alguns fragmentos da Amrica. Em termosqualitativos, entretanto, no

    se trata de estabelecer, como quereria o compilador da antologiabrasileira, um

    panorama dos melhores autores da dcada de 90, proposto j nottul

    tampouco, como Julio Ortega menciona na apresentao de suaantologia, de construir

    um arquivo que manifestasse certa tendncia ao futuro, comnarrativas que traariam

    las rutas de lo nuevo, sem se apegar ao trauma da terraespoliada. Tr

    esboar mapas que se desenham na atualidade, tanto nos textoscomo no contexto

    geogrfico, econmico, cultural ou sociopoltico, atravs dasantologias. Assim,

    retratam-se as fragilidades identitrias de nossos dias e, aindaque o antologis

    peruano queira livrar-se do esteretipo da excluso e o brasileiroselecione uma forma

    de narrativa curta consagrada, na qual ele mesmo reconhece opredomnio, entre os

    autores, de homens de classe mdia, brancos e heteressexuais,importa salientar que

    ambos antologistas no deixam, consciente ou inconscientemente,de representar ou

    de construir personagens excludas.1

    Capturando, pois, retratos/imagens de um territrio latino

  • forma, tais esteretipos so desmascarados como anacrnicos,sim

    insuficientes?

    Seria o caso de se perguntar, ainda, no quadro da reflexo sobrea funo da

    Literatura, se, de fato, existe uma redefinio do intelectualcontemporneo que elimina

    ou supera toda inteno messinica ou mantm-se a propenso

    uma transformao ideolgica, a despeito de um mapeamento maiserrante dentro da

    globalizada comunidade transnacional dos discursos dacontemporaneidade.

    intelectual ou escritor seria ainda responsvel por disseminaridia

    a sociedade receptiva a possveis mudanas futuras, capazes depreservar a

    flexibilidade social (GUMBRECHT, 2004)? Qual seu papel nostextos/territrios

    latino-americanos?

    De qualquer forma, uma primeira percepo que nos do esses

    capturados do cotidiano, a de que explicitam transformaes nocampo social,

    poltico, econmico e cultural da Amrica Latina. Transformaesproduzidas sob uma

    forte presso de valores des/construdos que circulam num contextocada

  • linearidade, revelando-se fragmentada; e as personagens,mergulhadas numa certa

    desordem, protagonizam a violncia moral e fsica e a destruio dasformas de

    convivncia social.

    Nesse sentido, a partir de narrativas que tm o excludo comopersonagem e que se

    produzem a partir de tenses histrico-poltico-sociais,caractersticas da Amrica Latina

    de nosso tempo, esta investigao volta-se para a discusso doproblema da excluso

    social, acirrada de forma perversa no mundo globalizado,retomando a relao Literatura

    e sociedade e aproveitando-se de uma fundamentao tericaproduzida mais

    recentemente. Para tanto, previu-se o desenvolvimento de cadauma das etapas

    formadoras da tese aqui proposta.

    A primeira parte busca fundamentar, luz da relaotextualidade/territorialidade, a

    escolha das selees de contos e discutir, a partir da, a propostadas antologias e a

    irrepresentabilidade da Amrica Latina como um todo unificado.Ainda nessa parte,

    revisita-se o conceito de nao e identidade e estudam-se asrelaes entre in/excluso,

    tendo, como referente, a relao Literatura/Histria em seuenvolvimento com as relaes

  • processo de classificao do espao latino-americano comoperiferia, ter

    Nessa etapa, enfocam-se os elementos de dominao, de poder e decerceamento da

    liberdade, em diversos nveis: individual, institucional,cultural, geogrfico, poltico

    e sua relativizao. Na aproximao entre os contos selecionados

    manuscritos de computador e da Antologa del cuentolatinoamericano

    alegorias, para indicar os mecanismos que subjazem aos textos,sustentando a

    percepo de sociedade e identidade, transmitida pelos autores, epara discu

    poderes e os artifcios que foram ao silncio as vozesdiscordantes, levando excluso

    dos alijados. Enfim, em um momento em que, no campo da criaoartstica, a mistura

    entre espaos reais e espaos fictcios fortalece-se como tend

    significativa, nossa anlise quer contribuir para uma maiorcompreenso dos recursos

    utilizados pela Literatura, para produzir efeitos de sentidos, apartir das relaes entre o

    mundo vivido e o mundo construdo com os recursos prprios d

    encenando a in/excluso social, o texto literrio faz-se lugar emque se mostram

    tenses e intenes que, muitas vezes, fogem ao controle dosautores/organizadores dos

    textos.

  • escrita como lugar de encenao de identidades. Em outraspalavras, fazer essa leitura

    significa transitar em e entre culturas, dspares em suassingularidades e to prximas

    em seu trgico destino poltico e social, na qual in/excluso,sociedade, poder e

    identidade poderiam ser vistos como pequenos fragmentos,movimentando

    grande caleidoscpio a relativizar limites entre pasessubdensenvo

    desenvolvidos, terceiro e primeiro mundo, centro e periferia,sem que sejam dissipadas,

    entretanto, e infelizmente, as desiguais relaes de poder queteimam em conservar

    no jogo poltico de excluses sociais. Nesse sentido, o espaonarrativo

    contradies, destri modelos que buscam homogeneizar diferenaspara melhor apart

    las e dirigi-las, e, ao faz-lo, abre a crtica contraarbitrariedades que se mantm dentro

    da lgica geopoltica de um mundo, paradoxalmente, dado comoglobaliza

  • PARTE l

  • CAPTULO 1 ANTOLOGIAS: MAPAS E IDENTIDADES

    Sabendo-se que, neste trabalho, toma-se como objeto de anliseduas

    selees de contos, no territrio da Literatura contempornea emlngua

    portuguesa e espanhola, este captulo busca fundamentar,

    relao textualidade/territorialidade, a escolha de tais seleese

    discutir, a partir da, a proposta das antologias em sua relaocom a

    prpria irrepresentabilidade da Amrica Latina como umterritri

    unificado.

    Em uma poca em que questes sobre o resgate do realismo, voltadoaos problemas

    sociais, na Literatura, acompanham a controvrsia da histria daAmrica Latina, como

    uma histria de plurais e contraditrios discursos, nosso trabalhotoma, como

    anlise, justamente, duas antologias de contos, no territrio daLiteratura

    contempornea em lngua portuguesa e espanhola. Isso porque, aofornecerem

    imagens despedaadas da realidade, tais selees de contostraduziriam

    representaes de um continente fragmentado, a despeito doprocesso da globalizao.

  • como nos adverte Coelho Prado (1999, p.20)3, em diversas evariadas manifestaes

    polticas, econmicas e culturais, Brasil e Amrica Latina atestamsua identidade, mas

    tambm a rejeitam, evitando-se, invejando-se,des/qualificando

    esteretipos, vinculados ao mundo ibero-hispano-americano.Entretanto, Amrica

    Latina e Brasil so partes de um mesmo continente, c

    secundria em relao proeminncia de uma Europa, de uma Amrica doNorte, ou

    de pases economicamente considerados fortes. Essas contradies,porm, so a

    mola que nos impulsiona e a causa de nossa persistncia pelapesquisa

    Latina, via Literatura.

    oportuno frisar que, na medida em que, hoje, explicita-se adificuldade de se falar de

    identidade nacional e o fato de que a histria de cada pas daAmrica Latina corre

    paralelamente das demais, vivenciando situaes sociopolticasbastante parecidas

    (colonizao, independncia, supremacia europia e/ou norte

    parece-nos, como evitar comparaes e, em vez de mantermos osolhos fixos na

    Literatura de determinada faco, acreditamos ser muito

    Literatura brasileira ao lado da Literatura que se produz nospases de colonizao

  • Oliveira, Gerao 90 manuscritos de computador Os melhorescontistas brasileiros

    surgidos no final do sculo XX (2001) e da Antologa del cuentolatinoamericano del siglo

    XXI las horas y las hordas (1997), seleo, em lngua espanhola,do

    Ortega. E, no quadro um tanto apocalptico de um tempo de

    em nossa opinio, as antologias de textos brasileiros e hispnicosestariam aptas a

    configurar, dado os efeitos de sentido dos contos que asintegram, um esboo de um

    projeto literrio, em dilogo com histrias da Literatura que, deuma forma ou de outra,

    ajudam a construir. Vale lembrar que, caracterizadas por umacomposio mista, em sua

    ambigidade irredutvel, as selees organizam seus textos emblocos, localizando

    em seu correspondente perodo histrico e crtico, o que,contraditoriamente, faz

    espao passvel de desconstruo. Da mesma forma, cada seleo, mesmosendo

    preparada, integralmente, por um s especialista, constri

    isto , so o phrmakon que representa bem a idia da diversidade edo paradoxo que

    circula nelas prprias ou no projeto dos antlogos, nos escritoresselecionados ou nos

    textos que as compem, mas que tambm circula na culturalatino

    faz-se uma forma particular de reflexo sobre o processo deconstruo dessa cultura,

    estabelecendo um olhar dialogante e plural. Por isso mesmo, taisselees, conscientes

  • almejado. Importa, pois, pensar a poca de edio das antologias,as condies de

    produo das mesmas e suas contradies.

    No que se refere Gerao 90 manuscritos de computador

    inicialmente, como uma espcie de compilao de textos,pertencentes ao

    do conto brasileiro, escritos no vagalho tecnolgico doscomputadores pessoais. O

    ttulo, ou pre/texto, do organizador para reunir, em livro, 17contistas que vm

    publicando nos ltimos anos, de incio destaca a composio dostextos: manuscritos

    da era da informtica, que, aproveitando-se de novas tecnologias,realizam

    mobilidade de extratos, de pedaos que saem de um arquivo e semetem em outros,

    incrementando a variedade da escrita.

    Essa variedade, que se d em vrios nveis geogrfico (autores devrias partes do

    Brasil), temtico e de composio ou construo textual

    sempre num af de explicar ou organizar o que nos parecearbitrrio, sintamos a

    necessidade de classific-la para alm da ordem alfabtica e dovago conceito de

    gerao, em termos de realizao literria, dado por Oliveira, que, apr

  • uma Literatura geracional, ou seja, de se tomar a produoliterria contempornea,

    atravs de um recorte dessa natureza, caso de nossas coletneas.Alguns observam,

    no entanto, que, mesmo sendo discutvel, esse tipo de recorteteria o mrito de mapear

    a produo de dado momento histrico, sobretudo, no caso especficode passagem do

    sculo, quando se tem uma pluralidade enorme de discursos, isto ,uma riqueza muito

    grande de abordagens. No se trata, evidentemente, de discutir apertinncia ou no

    das antologias ou de seus ttulos, mas, justamente, de sublinhara ausncia de uma

    linha temtica e de um projeto literrio, nicos, como elementosindicadores de um

    processo de leitura, no s dos livros, mas tambm dos espaos emque circulam.

    Assim, embora a singularidade que se busca, ora se perca,ora

    pequenos traos, a maneira diversificada de se construrem oscontos e que marca a

    prpria maneira de organizao da/s antologia/s, permite

    intrincado espao do qual somos parte: uma Amrica Latina singulare divers

    perfeito para evidenciar, no todo, seus intrincveisfragmentos.

    O gnero conto, pois, em sua expressividade e em especial,aqueles selecionados

  • narrar, simultaneamente, duas histrias como se fossem uma. Umahistria aparente e

    outra secreta. Para o autor, a princpio, a histria secreta seriauma situao de

    enunciao que persistiria cifrada at o final, de forma que osentido de um relato seria

    uma figura que, oculta, revelasse sua existncia, comodesvelamento, apenas no

    desfecho da narrativa. Nesse sentido, a voz autoral que seescuta, sub

    estrutura de caleidoscpio dos contos aqui selecionados,

    pelo tom, pelo registro verbal da/s histria/s e pelamultiplicidade de tipos que ali

    circulam , ao se revelar, produziria um efeito de paradoxo e derelativizao. Como

    Piglia (2004), compreendemos que tal efeito est ali, desde oprincpio, e quem define

    os fatos, mas que, intencionalmente ou no, produz um relato empalimpsesto, antes,

    um relato em abismo. Isto , mais do que o relato de uma histriasob outra, o que se

    tem, como o prprio Piglia (2001, p.3) reconhece, em outroartigo, uma multiplicidade

    de histrias, umas dentro de outras4. Dessa forma, conforme nosensina o referido

    autor, o conto seria uma histria sobre o instantneo, um universoem miniatura, em

    que fronteiras so traadas, escandidas, cindidas e/ou divididas(PIGLIA, 2001, p.112).

    Assim sendo, o conto pode ser visto como uma encruzilhada cominmeros pontos de

    interseo, rompendo a profundidade ou a linearidade dosdiscursos, atravs dos quais

  • Em sntese, por essa razo que nos lanamos ao estudo de um c

    pela improrrogvel necessidade de incorpor-los como narrativascapazes de mapear

    espaos e tempos, ao apresentarem instantneos de nossos recentesanos. Nesse

    sentido, ressalte-se que, sem nos preocuparmos em estabelecernexos e

    dependncias, a aproximao entre Gerao 90 manuscritos decomputador

    Antologa del cuento latinoamericano pode ser produtiva naconfigurao de espaos

    latino-americanos. O interesse primeiro proceder ao exame dessesespaos, atravs

    de seu relacionamento, atentando-nos a ambas selees. Ou seja,para compreend

    los melhor, pareceu-nos inevitvel que os textos dos autoresbrasileiros ultrapassassem

    os limites da lngua e da historiografia e dialogassem com outrano menos

    diversificada seleo, em lngua espanhola.

    O compilador da antologia latino-americana, Julio Ortega,esclarece as circunstncias

    de seu encontro com os textos, a partir de uma convico: a de queuma era traumtica

    e estereotipada do passado da cultura latino-americana d lugar aum por

    ideogramas preconceituosos. Fascinado pelo tema do futuro que,segundo ele,

    precipita-se nos recentes textos, decide organizar a melhorrepresentao futurista de

  • A Antologa del cuento latinoamericano representaria, nessesentido, a superao da

    idia de que a Amrica Latina produto de uma violao de quesomos,

    historicamente, subsidirios da violncia e de que o fracasso, oressentimento ou a

    autodegenerao so a ns destinados. Dessa forma, as idias que nelaveiculam

    seriam as de que tais hipteses so apenas mitos mecnicos esimplificadores, que no

    do conta da qualidade imaginativa das nossas artes, no casoe

    nem da capacidade criativa da resistncia cultural popular, nemdas respostas da

    sociedade civil e, muito menos, da vivacidade do cotidiano. Emque pesem, nessa

    balana, todas as razes contra, seus textos conseguiriamprocessar car

    humanizar violncias e apropriarem-se, subversivamente, dalinguagem dominante.

    Atravs da coletnea, seria possvel conhecer o homem do novosculo, que no tenta

    mais explicar as loucuras e os crimes da humanidade pelo vis doterceiromundismo.

    Se, na antologia de Nelson de Oliveira, os recentes contos decontistas,

    consideravelmente jovens, talvez no consigam, ainda, abalar umacerta concepo de

    intelectual iluminado, indo ao encontro do que este afirma, emtom dogmtico, no

    ttulo e na apresentao, ser a sua uma antologia dos melhorescontistas surgidos na

  • explicaes globais como essas ou verses autoritrias de discursosdominantes so

    insuficientes. Se algo tm em comum, alm da total diversidade deassuntos e

    construo dos textos, isso seria o alargamento da autoridade doindivduo e de seu

    territrio, uma propagao de sua identidade, dada pelo fato de queno se curvam

    mais verdade de um ou outro discurso arbitrrio.

    Vrias figuras ou idias, elementos ideolgicos e fatorescontraditrios, entram por igual

    na composio dos contos e sempre difcil traar entre uns e outrosuma linh

    de demarcao. Assim, os contos das antologias, ora estudadas,situam

    dinmica e contraditria do global e do regional, noes que no soopostas, mas que,

    antes, constroem-se como espaos de identidade mvel e heterognea.Primeiro

    porque as tecnologias so aproveitadas dentro e fora dos textos,intrincando

    centros e vrias margens. Segundo, porque a/s identidade/s quedeles emerge/m,

    revela/m-se com todos os seus direitos diferena e se constri/oemna diversidade,

    no necessariamente como fator discriminatrio, mas, tambm, comuma funo

    inclusiva. Uma identidade, em princpio, antitraumtica, feita nointercmbio de

    valores, e atual, tanto como as redes de interao, em que oindivduo busca a

  • fato, pois, a cada descoberta, por certo surgir uma nova luz,uma nova trilha a ser

    percorrida, uma nova tese a ser elaborada. Certo , entretanto,que a atualidade, ou a

    modernidade de ambas selees, apia-se, principalmente, nessesentimento do

    diverso que sai da leitura de todas e de cada uma de suaspginas. No se trata,

    evidentemente, apenas da diversidade emanada dos diferentesassuntos; trata

    prprio ponto de vista dos autores, no qual se confrontam amscara da sociedade

    urbana e seu cdigo ideolgico, latentes na multiplicidade da

    As antologias em questo fundam um territrio da fico, aodimensionarem, na

    contradio entre o projeto e a ao, o pensamento e o ato, umaAmrica plural,

    mltipla e ambgua. Ambigidade manifesta desde os ttulos dasobras: por que

    manuscritos de computador? Por que las horas y las hordas

    se o jogo antinmico entre a tradio (manuscritos) e a tecnologia(computador); no

    segundo, o jogo entre a tentativa de organizao (horas) e aimpossibilidade desta

    (hordas). Talvez, porque os sentidos sejam mesmo mltiplos,ndices dessas diferenas

    ou singularidades to marcadas, mas sempre cambiantes, queencontramos tanto na

    compilao de Oliveira como na de Julio Ortega, nas horas y lashordas

  • pela instantnea impresso que tivemos de inverso dessesparmetros. Em primeiro

    lugar, em ambas as antologias constam nomes, ainda quepremiados, estreantes dos

    ltimos anos do sculo XX e de contos, em sua maioria, inditos.Nada nos pareceu

    mais adequado para capturar essa imagem fragmentria de Amrica,no fim de um

    sculo, no incio de um milnio. Em segundo lugar, ambas asantologias no pareciam

    simplesmente ressaltar, como a Literatura de contestao dos a

    esteretipos de Amrica Latina. Antes, pareciam propor uma reflexocrtica sobre

    esses esteretipos e trat-los por outro vis, o de ver neles apossibilidade de

    superao que se abre para a regio e sua gente. Tampouco taisselees tra

    como mencionamos, um enfoque monotemtico, o que se adequouperfeitamente

    nossa preocupao em no estabelecer fosse uma perspectivaregional, fosse qualquer

    outro tipo de rotulao, mesmo porque isso parecia impossvel.Desse modo, sem

    qualquer preocupao classificatria, pois, achamos por bem trataressa narrativa

    breve, dentro de uma perspectiva, atravs da qual pudssemosverificar, no tratamento

    de um mosaico de textos e autores contemporneos, que imagens deAmrica Latina

    se esto desenhando, nesse perodo.

  • de escolher o que fixar para a posteridade, como um arconte, naacepo de Derrida,

    tem o controle e a competncia hermenutica de interpretao dearquivos. Ainda,

    segundo Walty, paradoxalmente, todo arquivo traz em si o germede sua destrui

    uma vez que outros podem abri-lo e desconstru-lo.

    Tambm Hugo Achugar (1997, p.23) reala a fora da leitura daantologia:

    Toda antologa es una mscara de interpretacin. As como no existeun lugar privilegiado e incontaminado desde donde interpantologaque no suponga una interpretacin. Pero si no existe un lugarasptico o un aleph desde donde interpretar, ello no implica laimposibilidad de la interpretacin. Se interpreta desde un espaciocontaminado y parcial. Contaminado por la historia social y lapersonal, parcializado por la historia social y la personal perotambin por la localizacin geogrficoen el planeta.

    Ora, se h escolha no processo de feitura, h escolha no processode rec

    ambos, h movimentos de incluso e excluso. Assim, a organizao daantologia pode

    ser vista como uma analogia textual da organizao de um territriodenominado

    Amrica Latina, ele mesmo marcado pela excluso sociopoltica,cultural e econmi

  • otras estructuras del pensar moderno de un modo mucho msradical, descortinando

    uma nova territorializacin de las desigualdades .

    No artigo, o mencionado crtico, luz da globalizao, faz umareviso crtica da

    questo do ps-modernismo e ps-colonialismo na Amrica Latina,lev

    produo e a recepo crticas e o lugar do intelectual latino

    afirma a Amrica Latina como comunidade discursiva, oscilandoentre a colnia e a

    ps-modernidade. Nesse aspecto, impe-se ante as totalizaes, aquesto

    diferena, da in/excluso ou da arbitrariedade de acessos, pois,conforme De la Campa

    (1996, p.698), ao mesmo tempo em que se globaliza o estudo doque se refere

    cultura latino-americana, integrando os principais textoscrticos ao cnone ocidental,

    disminuyen o desaparecen las posibilidades de investigacin paramuchos

    intelectuales en latinoamrica.

    Acreditamos, em certa medida, que o mesmo se aplicaria produoliterria

    contempornea, pois Julio Ortega, ao compilar os textos da

  • no poderia mesmo deixar de ser, conforme o corpus ou o arquivoque desejam seus

    organizadores. Entretanto, quando na apresentao de suaantologia, Oliveira pr

    mapear, ainda que rapidamente, o elenco escolhido e, a partir daconstatao de que

    apenas uma mulher est presente, identifica a predominncia dohomem branco de

    classe mdia, heterossexual e europeizado, concluindo, maisadiante, que ou os

    excntricos (a mulher, o negro, o ndio, o favelado, ohomossexual) nada tm a dizer

    por intermdio da literatura preferindo, antes, a msica, ocinema, o teatro e as artes

    plsticas ou a literatura no to democrtica como imaginamos(OLIVEIRA, 2001,

    p.12), tal atitude no o exime da responsabilidade de deixar defora do conjunto de

    autores eleitos, outros sujeitos sociais, que entram no/slivro/s como personagens.

    De modo que, a despeito da inteno dos antologistas, tanto nocontexto como nos

    textos que tomamos para estudo, as diferenas e os paradoxos do atnica, e variadas

    personagens constroem trajetrias tambm diversas e paradoxais,correndo em direo

    excluso, assim como, da mesma forma, o processo de in/exclusoafeta territrios.

    Sob determinadas condies, a Amrica Latina no se furta a serexemplo de territrio

  • porque, nos termos de Forrester (1997, p.78), possvel seremigrado, imigrado no

    prprio lugar; ser exilado, pela pobreza, em seu prprio pas, mas,muitas vezes

    clandestina, seria uma forma de buscar a possibilidade deincluso, ou de acesso,

    principalmente, ao trabalho remunerado e com relativaregularidade, o que recobraria

    auto-estima e dignidade humanas necessrias a qualquerindivduo.

    Ora, oportuno frisar que tambm, neste trabalho, faz-se presenteum movimento de

    in/excluso, a partir de um processo de escolha. Em primeirolugar, escolha de

    antologias. Em segundo lugar, antologias de contos e, emterceiro lugar, um movimento

    de in/excluso de uma diversidade de textos. Incluir estes ouaqueles discursos, neste

    caso, importa menos que saber que o essencial a conscincia deque, atravs deles,

    capturam-se imagens inesperadas, configurando-se com

    arbitrariedades em busca de responder se o gnero (seja conto ouantologia), ele

    mesmo to diverso e variado, no nos permitiria chegar, a partirdas mltiplas histrias

    que narram, relativizao de incontveis preconceitos quemarcam,

    nosso intrincado territrio latino-americano. Isso, em um momentoem que ganha fora

  • as montagens, o close, a cmera lenta, o barroquismo dalinguagem... Ou seja, tal

    questo metaforiza-se em imagens transfigurais, como as dosretratos. Porm, no

    pensemos em uma imagem, nem tampouco em uma imagem ntida,delimitada,

    estruturalmente, por um quadro, mas em retratos/imagens, assim,no plural, cuja luz

    e/ou cor e/ou foco podem ser forjados e modificados. Pensemostambm naquelas

    imagens, produzidas pela lente do caleidoscpio, que permitem, apartir de um

    movimento, multiplicar um sem nmero de outras imagens jfragmentadas. Sem abrir

    mo de captar do cotidiano tais imagens, as antologias (e seustextos) referendam a

    fragmentariedade a elas inerente e, em decorrncia, avultam

    paradoxos, ensinando-nos a incorporar descontinuidades emovimentos.

    No pois sem razo que, como dissemos, a anlise das antologiasaponta para a

    diversidade, uma vez que nelas se incluem distintas voze

    vozes que falam de diferentes lugares, atravs de no menosvariados e diversificados

    nomes da Literatura atual. Seus textos e as histrias que nelesse narram, ainda que,

    no corpo das antologias, localizem-se uns aps outros, a e

    ordem ou linearidade, vinculam-se, atravs do espao e dosacontecimentos, e

  • as vrias histrias. Vidas, inicialmente desconexas, cruzam

    fusionam-se como os quadrados e retngulos...; figurasmisturam

    situaes; grupos ou segmentos sociais movem-se e reagem de acordocom as

    mltiplas circunstncias que os afetam, num movimento ininterruptode confluncia e

    refluxo, desvelador das relaes em sociedade.

    Nesse sentido, vale lembrar a imagem de um albergue en laintemprie, usada por

    Ortega (1997) para definir sua antologia, ou a de nacos de arte,usada por Oliveira

    (2001) que, com a idia de transitoriedade ou de fragmentos,demonstram que a

    Literatura, entre contraditrios projetos e efeitos, seguedesempenhando, entre tantos,

    seu papel social.

    Portanto, vale considerar aqui, dado o princpio polmico dein/excluso e de

    contaminao (entre os textos), que, por sua vez, tambm estetrabalho se move,

    perigosamente, num terreno movedio e contraditrio. Por queantologias, que

    pretendem recuperaes e/ou revelaes; por que antologias, quebuscam,

    paradoxalmente, em um momento de universalizao, dar conta de

  • excluso de vozes deve-se a qu? A razes culturais e polticas queconfinam

    determinados segmentos, no espao pblico ou privado, conforme opapel social que

    cumprem na sociedade? A um estigma? Razo pela qual, talvez, apresena de

    mulheres, na Literatura oficializada, sempre muito reduzida? Atradies seculares

    que lhes delegam as funes relacionadas ao espao privado? Afatores econmicos

    ditados por editoras? A critrios de seleo utilizados peloseditores? ideologia dos

    antlogos? A sociedades que ainda se regem por normas, sub

    separao entre o espao de umas e de outros? A limites de espao? Apropores de

    estilo? Pois bem, descontemos, a favor, a diversidade. Mas..., ea presena de

    equatorianos, chilenos, venezuelanos, pressupe a ausncia deparaguaios? Por que,

    ao se buscar uma unidade, excluem-se brasileiros de umaantologia latino

    Acaso no so latinos como argentinos, peruanos, mexicano

    bem seus critrios de seleo, baseados no exerccio de seu juzo oupreferncias (o

    que em si mesmo um direito elementar de qualquer leitura);entretanto essas

    ausncias, a de brasileiros, em uma, a escassez de uma escritafemin

    principalmente, esse ambiente paradoxal, por excelncia, ,sobretudo, ainda que no

    se pretenda responder a tantas perguntas, um sintoma a serconsiderado. Um sintoma

  • a ameaar todo principado, todo primado arcntico, todo desejo dearquivo

    (DERRIDA, 2001, p.23). Compartimos de sua opinio, quando estaaf

    exterioridade do arquivo passa a ser habitada pelo outro que secoloca frente a frente

    com seu habitante interior (WALTY, 2005, p.07) Em outro momento,citando Derrida, a

    autora atesta que o arconte tem o poder de consignar, reunindosignos:

    consignao tende a coordenar um nico corpus em um sistema ou umasincronia, na

    qual todos os elementos articulam a unidade de uma configuraoideal (DERRIDA,

    2001, p.14). Acreditamos, portanto, que as antologias seriamresultado do trabalho de

    um arconte, mas no revelariam a unidade de uma configurao ideal;isto porque, a

    partir de fragmentos, os antlogos tentariam dar unidade ao que,por natureza,

    fragmentrio. Essa contradio inerente alarga-se e toma vulto, namedida em que tais

    fragmentos se multiplicam, ainda mais, pela exposio a outrasinterpretaes. Dentro

    desse prisma, as antologias podem ser vistas como um arquivo, ummuseu. Em seu

    jogo de in/excluso, tanto um espao de permanncia daquilo queficar para a

    posteridade, como, ao conservar determinados textos e autores,espao de

    exposio, abrindo-se possibilidade de outros tantos olhares eleituras. Como se v,

    tem-se a uma mobilidade muito grande, no [grande] texto e nostextos que o

  • polmica gira em torno do atual mercado editorial, da falta deleitores e dos possveis

    caminhos criativos disposio dos novos escritores.

    Alm de discutirem a subordinao da Literatura contempornearealidade

    impossibilidade de se estabelecer uma Literatura geracional,como vimos

    anteriormente, queremos destacar, nesse momento, o fato de, umdeles, Bernardo

    Carvalho, associar a "gerao 90" a certa militncia de um grupo deescritores. Em

    suas palavras:

    Se voc pegar essas pessoas, elas no tm nenhuma questo em comum.No como a nouvelle vague, um grupo que fez um manifesto, iniciou ummovimento. Aqui uma militncia para criar espao no mercado. O perigoda impostura nisso grande. Voc junta alhos com bugalhos, como sefosse propaganda. (CARVALHO, apud MACHADO, 2003)

    Ao dizer que os escritores buscam promover-se, isto , buscamespao no mercado

    editorial, toma a antologia como instrumento publicitrio,abrindo o debate

    questionamentos: da a inflamada rplica, em que Nelson deOliveira comenta as

    crticas de Bernardo Carvalho e Hatoum (OLIVEIRA, 2003

    questo da visibilidade, dizendo que, seja onde for, qualquerescritor, genial ou

    medocre, quer que seus textos sejam lidos, e acrescenta que esseanseio leva tais

  • contaminao, at o princpio da antologia como estratgiapublicitria, insere

    vrias formas, a questo da in/excluso?

    Sem dvida. Tanto que Oliveira (2003) insiste em que todo essemovimento [de busca

    por promoo] bate de frente com a literatura de gabinete, voltadaapenas para o

    cnone e distante do corre-corre cotidiano, sublinhando,contraditoriamente, que tal

    postura aristocrtica e, em suas palavras, casa bem com a fixaode Bernardo

    [Carvalho] e Hatoum na questo da permanncia, segundo ele umaquesto

    bizantina, porque discutir "quem vai ficar e quem no vai ficar"discutir o sexo dos

    anjos.

    Contraditoriamente, dissemos. Isto porque, dentro da polmicasobre quem fica de fora

    ou dentro da antologia, Oliveira no se exime de classificarautores entre geniais e

    medocres, nem, tampouco, de ratificar a necessidade dele prprioe a do grupo que

    seleciona de fazerem parte desse cnone da Literatura, que oantlogo tenta negar.

    seja, buscando questionar um preconceito, rebate a crtica com omesmo preconceito.

    Buscando atacar a postura de Bernardo Carvalho, segundo ele,antitica por

  • Temos de reconhecer que os paradoxos so inevitveis, mas so elesa conferir, no

    nosso ponto de vista, maior importncia s antologias, pois, no sepode negar, mesmo

    que selecionem uma forma consagrada de narrativa curta, daes

    mecanismos editoriais, fazem um mapeamento da produo, ainda quede forma

    contraditria e sem unidade de qualquer gnero, ao evidenciar, nopanorama da

    produo cultural contempornea, intrincveis fragmentos. Em outraspalavras, o

    paradoxo primordial, marcado pela seleo de escritores de umgrupo, no caso

    brasileiro, e de uma regio, no caso latino-americano e de ambos,no nosso prprio

    caso, a fim de refletir sobre um desplazamiento de fronteiras ede identidades, atravs

    de elementos que vm da tradio ou dos esteretipos, acabam poresboar mapas de

    sentido.

    Evidentemente, no faltar quem se escandalize pelapresena/ausncia de umas e

    outros. Porm, ratificamos, esse aspecto no determinante: essaansiedade de

    in/excluso no seria outra forma de mostrar que as antologias noesto aqui para

    fotografar a cara da Amrica, para dar conta de represent

    sem interferncias de quaisquer espcies, mas para revelar imagense propor novas

  • variado critrio, s poderiam mesmo representar a diversida

    poca.

    Nesse sentido, ao analisarmos os projetos dessas coletneas,compreendemos as

    escolhas efetuadas pelos organizadores, que, paradoxalmente, nabusca de agrupar,

    selecionam textos que as fraturam e fragmentam e nelas produzems

    vrios. Ou seja, a presena/ausncia de escritoras/es nessaspublicaes, marcando

    seu lugar de enunciao, diz, evidentemente, dos critrios quelevaram ao agrupamento

    de tais textos e no de outros, diz muito de como se situam asantolog

    Literatura brasileira e latino-americana, mas fortalece-se nasfiguras que transitam pelas

    narrativas, num espao de tenso que, de alguma forma,infringem.

    De forma que um elemento produtivo de leitura parece-nos ser aaproximao entr

    antologias de Oliveira e Ortega e, ao estabelecermos o dilogoentre elas, atravs de

    produes de outros espaos, talvez consigamos evidenciar aimportncia de se negar

    ou reafirmar o Brasil e a Amrica Latina, como espao dein/excluso social ou de

    opresso histrica; talvez, ao interrogar-nos sobre o que asmotivou, possamos

  • onde falam e, somente nele, podem abrigar variadas vozes, e deleabrir caminho para

    outros deslocamentos. Assim, em sua complexidade organizacional,da ambigidade

    entre fechadas/abertas, as antologias no as fazem os crticos,nem os escritores, mas

    suas construes literrias, publicadas numa poca significativa dahistria dos vrios

    pases. Tudo conflui para a possibilidade de se observarem osdiferentes recursos de

    que se valem para, no espao especfico da Literatura, operaremdilogos com outros

    lugares, graas a que, no lugar do arquivo ou do museu, quallugar de conservao,

    est, em contraste, o mapa, um mapa em suas variadas formas,sempre cambiante e

    movedio, como a Amrica Latina.

  • CAPTULO 2 AMBGUA AMERICA LATINA

    Nossa preocupao, neste segundo captulo, ser a de revisitar o

    conceito de nao e identidade e estudar as relaes entrein/excluso,

    Literatura/Histria e seus deslocamentos de sentidos, tendocomo

    referncia as relaes de poder, no espao latino-americano.

    2.1 A identidade em questo

    Todo el proceso de la sociedad democrtica es una tendencia haciala

    igualacin: igualacin de oportunidades, de derechos, de consumos,de

    apariencias. Las ideas, los objetos, se extienden para

    homogneamente en una y otra parte del mundo tal como lapropagacin de

    una epidemia de los mismos perfumes, los mismos coches, losmismos

  • Com base em diversas abordagens, a discusso que propomos sobreidentidade e

    nao, na transio dos sculos/milnios, s poder ser hipottica ecircular. Nesse

    sentido, explorando o incerto, devemos tentar sublinhar aspectosdesses temas, que

    tornem nossa tentativa menos obscura.

    Em primeiro lugar, discutir a noo de identidade, num momento emque h uma

    completa ausncia de paradigma, vrias mudanas acontecendo emltiplas informaes

    em todos os campos do saber, algo muito complexo. Situando

    evento social e poltico, os diferentes usos do conceito provocamproblemas. Portanto, a

    identidade, a partir de seu prprio repertrio de expresso, parecerefletir a

    complexidade, metaforizada na imagem do caleidoscpio, do nossoterritrio e da/s

    imagen/s que latino-americanos - brasileiros e hispnicos - fazemde si.

    O Dicionrio consigna que "identidade" vem do latim idem, quesignifica "o mesmo" e se

    refere "qualidade de idntico." (HOUAISS, 2004). Em sua

    Martn Alonso (1958) acrescenta outro significado: "la unidad delo mltiple," que se ope,

  • ou seja, a resposta , sempre, uma redundncia, um nome, sempreinsuficiente para

    qualificar ou representar um indivduo. De fato, o advrbio dolatim clssico

    de novo, repetidamente, o que teria dado origem ao substantivo(cf. HOUAISS, 2004,

    nesta mesma entrada).

    Nesse sentido, a palavra identidade resulta, em princpio, da aode identificar uma

    pessoa, conforme o conjunto de suas caractersticas como o nome,a profisso, o gnero,

    o tipo fsico etc., o que pode representar uma acentuao da idiade unidade. Porm,

    determinada por fatores presentes no espao histrico-social que agera, modifica

    desaparece, quando o contexto que a criou se altera. Assim,identidade, como

    pensamento historicamente situado, seria uma espcie derepresentao mental de uma

    dada situao, ou de uma pessoa ou uma sociedade determinada, ouseja, um fenmeno

    que sempre associado a outro e sempre em movimento traz em si,parece

    contrrio, o germe da fragmentao.

    A sociedade no um todo unificado, est constantemente sendodescentrada ou

  • Note-se, portanto, que o conceito de identidade mudou. Se antesimperava o conceito

    pr-socrtico da referncia certa, do indivduo ou da pessoa humanacentrada, coesa,

    unificada, dotada de conscincia e razo (GUMBRECHT, 1999), hojede

    um conceito ps-moderno do sujeito que, formado pelas relaessociais

    estabelecidas com os outros, incorpora, assume ou absorveidentidades diferentes em

    momentos diferentes (HALL, 1999). Isso o que provoca choques eexplicita paradoxos

    e no poderia ser mesmo de outra forma.

    Entre os sculos XVI e XVIII, poca do direito divino dos reis,acreditava

    tradies e estruturas estavam, divinamente, estabelecidas e nopoderiam ser

    modificadas. Idia conforme o pensamento de Plato deSociedade

    qual a sociedade deveria possuir uma estrutura ordenada edividida em classes, em

    que as pessoas estariam, rigidamente, fixadas em seus papissociais; ou seja, as

    pessoas teriam uma identidade coletiva e sua permanncianesse

    garantiria a ordem.

    Com o advento do capitalismo, essa concepo mais social da pessoase desenvolve,

  • universalistas, mas o que ocorreu parece no ter sido nem otriunfo do universal, nem

    do particular, mas o triunfo das rupturas e dos desvios, cadavez mais pujantes e

    contraditrios.

    Assim, o sujeito do iluminismo6, visto como tendo uma identidadefixa e estvel, foi

    descentrado, resultando nas identidades abertas, contraditrias,fragmentadas,

    desconstrudas ou inacabadas do sujeito ps-moderno.

    Conforme Hall (1999), esse descentramento teria ocorrido emetapas. A primeira

    delas, referente s tradies do pensamento marxista; a segundadescoberta do

    inconsciente por Freud, isto , a identidade seria, realmente,algo formado, ao longo do

    tempo, atravs de processos inconscientes de identificao, e noalgo inato; a terceira,

    a do descentramento, seria a da esfera da linguagem (

    surgimento de uma corrente de pensamento, chamada desconstruo,criada para

    questionar, a princpio, a lngua e mostrar como no pode haver umsignificado fixo.

    Nela o falante individual se d conta de que no pode fixar osignificado em uma forma

  • A quarta etapa, ainda retomando Hall (1999), seria a do poderdisciplinar, segundo

    Foucault (1977), isto , o poder coercitivo do governo, davigilncia, da regulao da

    pessoa humana, atravs de instituies que policiam e disciplinamas populaes

    modernas, como escolas, prises, hospitais e quartis, porexemplo. Da o paradoxo:

    quanto mais organizadas e coletivas fossem tais instituies,maior o isolamento e a

    individualizao das pessoas dentro delas. Enfim, a ltima etapateria ocorrido com o

    impacto do movimento feminista dos anos 60 e de muitos outros,de mesma estirpe,

    como o movimento dos sem-terra ou dos sem-teto, para sermosatuais, que se baseiam

    nos objetivos de seus organizadores, dando origem a um amploleque de identidades,

    uma para cada movimento.

    Questionamos, assim, a idia de que a identidade tenha sidoalguma vez to unificada

    ou homognea ou que teria tido uma referncia to certa quantofazem crer as

    representaes que dela se fizeram ou que talvez ainda se faam.Por isso mes

    uma identidade, assim entendida, no se encontra em declnio; naverdade, nunca

    existiu.

  • diferentes formas de poder, ocorrncias essas que remetem s lutassociais de hoje em

    dia (ou de qualquer poca), ao hibridismo, multiplicidade. Nummovimento

    ininterrupto, h uma tentativa de uniformizao das culturas, pelafora do mesmo, o

    que resulta, invariavelmente, em fracasso, j que a sempre seinstala a fora da

    diferena. Entretanto a fora do mesmo se exerce, justamente,sobre as diferenas

    econmicas e sociais, pois a idia de jugo, de controle. E nesseespao contraditrio

    e multifacetado, pinta-se a fractal face da Amrica, onde sedigladiam as diferenas,

    lutando contra o desejo eterno, na impossibilidade mesma de secosturarem numa

    trama identitria bem definida, numa grande e nicaidentidade.

    Pelo exposto, pode-se ver que a identidade se instaura comoespao movedio. No

    um lugar, mas uma transio de lugares. No um nome que designa umobjeto tangvel

    e sempre verificvel. uma metfora. Ou seja, na tentativa debuscar fazer um mapa dos

    usos do termo, percebemos que se abre o espao do discurso. Tantoassim que a

    simples pergunta _Quem voc? possibilita uma narrativa naresposta: _ Nasci em 19...,

    em Belo Horizonte. Sou filho/a de fulano e fulana. Sou um poucoinseguro/a

    (identidade pessoal), ou uma descrio: _ Sou professor/a,comissrio/a, dentista

  • dela, a coisa para ser deve ser sempre outra coisa. Nessesentido, a identidade abre seu

    lugar no discurso, ela est ali, inserida dentro dele. Dito deoutra forma, a identidade no

    uma competncia do ser (que determina as coisas), mas do estar ouestares (que

    flexibiliza nomes e coisas no tempo e no espao).

    Nessa dimenso, veremos que a questo da identidade campo frtilpara

    reconsiderarmos tambm o conceito de nao. Aproveitando

    (2000), a idia de nao tal como a conhecemos unidade territorial,poltica e,

    juridicamente, independente de 1830. Antes, diz, utilizava

    grupos institucionalizados) e ptria (para o que pertencia ao paie estava sob seu

    poder). No sculo XVIII, ptria passou forma de Estadoindependente e, em

    seguida, introduziu-se o conceito de identidade nacional. Aformao de uma identidade

    ou um imaginrio nacional baseia-se, pois, em grande escala, naidia de unidade, idia

    corroborada pelos muitos episdios que buscaram ou buscamagregar, em torno do

    conceito de nao, povos de diferentes origens, lnguas ou culturas(Movimento

    Separatista Basco, Srvia e Montenegro, Blcs etc.), o que vem,paradoxalmente, ao

    e de encontro a essa perspectiva do fragmento de que vimosfalando.

  • identidade nacional. O que h, conforme o autor, uma pluralizaode culturas

    nacionais e de identidades nacionais, ou uma transferncia, emque o indivduo que

    migra a uma outra casa leva consigo traos das culturas,linguagens, histrias e

    tradies particulares. Nesse sentido, nem a nao, nem o indivduo,jamais sero

    unificados, pois este no pertence a uma casa em particular, massim tem sido

    transportado ou transferido, atravs do mundo, habitando, no

    A nao, por sua vez, no pode considerar-se como uma comunidadecom uma base

    comum de origem, o que pe em curso o declnio de um antigo,conhecido e codificado

    mapa do mundo; simultaneamente, formao de outros, novos.Naes

    constante formao/dissoluo, buscam realizar-se em condies semprediversas, de

    tal modo que do a impresso do caleidoscpio, numa busca, entreim/possvel e

    ir/real, de forma e fisionomia.

    A despeito desse af de agregao que move o imaginr

    confrontamos os discursos dos pases que compem nosso territrio epensamos as

    imagens que latino-americanos brasileiros e hispnicos

    poderemos, de antemo, identificar pelo menos uma rasura cabal,in/consci

  • americanas, como filhas de si mesmas7. Tal situao de paradoxodesencadeia, no

    imaginrio latino-americano, uma crise de identidade, umanecessidade de encontrar o

    espao. Sem um pai a quem negar, negam-se a si e a seuoposto.

    Ao levantarmos essas hipteses, damo-nos conta de que, no cernedas relaes entre

    Brasil e Amrica Latina, encontra-se um sentimento dedespertencimento por parte do

    Brasil em relao Amrica Latina e um sentimento de rechao daAmrica Latina em

    relao ao Brasil. Esse despedaamento termina por revisar aspautas convencionais

    de nao e identidade, porque determina, a um s tempo, umdistanciamento e um elo,

    movidos pela fragmentao da realidade dos laos ideolgicos que,historicamente,

    mantm. Em suma, os discursos culturais dos pases e de seucontinente constroem

    por fronteiras fraturadas, incertas e fluidas, e um dos inmerosndices dessa situao

    de paradoxo seja, talvez, a ausncia dos brasileiros numaantologia latino

    Nesse sentido, no s no se pode falar de uma identidade nacional,como tampouco

    se pode pensar em uma Amrica Latina: h inmeras particularidadesque so da

    ordem da busca da origem, da histria, da cultura. Entretanto bemverdade que existe

  • exuberncia e grandeza, a despeito da mistura tnica, social,cultural, econmica...

    como se o grande pas tropical, abenoado por Deus e bonito porn

    si s, o continente brasileiro. Essa seria, conforme Chau (2000),citando Srgio

    Buarque de Holanda, a representao do Brasil, criada peloscolonizadores, em

    decorrncia da viso do paraso8, com a qual haveriam deparado pocad

    descobrimento. Em outras palavras, segundo a autora, a visoufanstica que o povo

    brasileiro possui de si e da nao nasce desse mito fundador daptria, que o

    transforma em um semiforo9, integrando a sociedade emantendo

    Como bem mostra a autora, contraditrio que uma sociedade quepermite

    discriminao social e econmica, que produz esteretipos como o daburrice

    portuguesa, o da natural inferioridade feminina ou o do machismolatino, renove seu

    mito fundador e tenha de si e da nao uma imagem positiva.

    Nessa dimenso, a despeito da mobilidade das fronteiras sociais,polticas, econmicas,

    sociais, culturais... e a despeito da ambgua construo identitriado pas e da regio,

    entendemos que essa contraditria imagem se alarga.

    evidente e ambgua relao entre o Brasil e a imagem de nao

  • ambigidade desse semiforo toma vulto, se pensarmos outroparadoxo inevitvel: de

    um lado, seu difcil ingresso nesse mesmo continente, por servisto pelas

    que o integram com mais representao e pujana; e, por outro,tambm

    contraditoriamente, essa imagem da nao-continente devolve, numreflexo invertido,

    uma imagem vilipendiada, que lhe custa o seu rechao. Da osentido da complexidade

    do que aqui se tenta discutir.

    Pois bem, os demais pases latino-americanos funcionariam comouma anttese frente a

    uma suposta totalidade que os parece ameaar. O Brasil, por suavez, assumindo o

    semiforo, assumir-se-ia tambm como o primeiro entre os dem

    estar, geograficamente, entre outros territrios, menores,fixaria, ento, uma identidade

    da ordem da pujana, entretanto rechaada. A imagem de poder edomnio que da

    derivaria contrasta, ento, com um sentimento de des/perte

    polticos ou econmicos, j que se enquadraria, nesse mbito, comoos demais, entre

    os perifricos, mas no sentido de que as outras naes, ao sequestionarem sobre esse

    estatuto nacional, negam o outro sujeito latino-americano.

    subtradas de sua prpria substncia, tais naes, por imaginaremeste Outro como

  • Essa leitura comprova as ambigidades inerentes s naes e noesidentitrias. Se,

    por um lado, o sujeito latino-americano, seja brasileiro ouhispnico, ilustraria a

    vitimizao, por outro, capaz de negociar suas prprias margens,ampliando esses

    espaos e sua noo simtrica de centro e periferia. Naes eidentidades mveis, sendo

    uma construo, primeiro da ordem do imaginrio, depois, poltica e,enfim, discursiva,

    estabelecem novos espaos, construindo-se na intensa hermenuticado intercmbio: s

    definies dominantes seguem as redefinies minoritrias.

    Duas teses respondem a essa situao. Na primeira, afirma

    diferenas exacerba a busca por unidade, excluindo de umdeterminado todo, aquilo que

    o possa des/conformar e pr em risco a noo de uma identidade e deuma unidade

    nacional. Por isso mesmo, no deixa de ter sua fora a segundatese, segundo a qual se

    assegura que as naes se constroem, evidentemente, na diversidade(seja tnica,

    cultural...). Da o paradoxo de se proteger uma identidade e umanao unas,

    recorrendo negao do diferente, daquele que possa destitu

    identidade. Ou seja, a nica possibilidade que teriam depreservar sua diferena negar

    o diferente que de si tambm faz parte. Tanto que se pode

  • porque ele estabelece, desde esse ponto de vista, uma identidadeque consegue afirmar

    se, pela diferena, frente a Portugal. Vejamos que, no casohispnico, h, sim, uma

    ligao mais profunda das culturas at mesmo a partir do nome, daorigem da

    denominao: hispnico est na raiz da outra, Espanha. No que dizrespeito a

    Brasil/Portugal, ou brasileiro/portugus, no h relao semnticadireta e substancial

    entre os termos. No se trata, logicamente, de uma tentativa deuniformizao pela

    lngua. Nessas consideraes, o que se quer ressaltar a diferenasimtrica de ambos

    os casos, naquilo que possam coincidir, pois naquilo em quecoincidem est o paradoxo:

    em primeiro lugar, o Outro (a nao-continente Brasil) se impe aum sujeito ameaado e

    inquietado (os outros pases latino-americanos) pela supostadominao, nos termos de

    uma representao de poder, dada por sua imagem de inteireza, denao

    mesmo, por seus atributivos, Brasil/brasileiro; em segundolugar, o Outro (a nao

    continente) modelo de nao e identidade apreciadas e invejadas,que se fazem valer

    pela diferena e que, por isso mesmo, precisam ser negadas.Dcadas de relaes

    desiguais e injustas distorcem as representaes de naes econtinente, cujas fronteiras

    abrem novos espaos de transio e transformao, num territrioocupado por todas as

    mediaes, dominantes ou marginais, cuja construo termina por serum discurso

  • detivermos, em torno a esses novos discursos dos excludos

    relao ao Brasil, da Amrica Latina, onde nos inclumos, em relaoEuropa e dos

    nossos prprios em relao Amrica, reativamos nossa capacidademetafrica e

    fragmentamos a idia de identidade e nao. Nosso sculo, marcadopelas demandas de

    flexibilizao de fronteiras econmicas, polticas e culturais,apesar da simplificao

    introduzida pelo projeto da globalizao, faz com que o prpriotermo nao,

    semelhana do que ocorre com a suposta referncia certa daidentidade, parea

    despenhar-se e em seu lugar insurgem ghettos, tribos,sociedades, culturas,

    representantes simblicos mas nunca totalizadores.

    No discurso contemporneo, nao e identidade relativizam

    para sempre, mas vrias construdas ou escolhidas, infligidas

    ou perseguidas. A nao fragmentada ou a identidade permutantemanifestam

    vrias, longe do discurso humanista de uma unidade fundamental,revelando

    mais complexas, j que no baseadas na semelhana mas naalterida

    1991). O continente e o indivduo, entre vrias identidadesoperativas, seja a tnica ou

    profissional, poltica ou sexual, lingstica ou urbana,expandem

  • Assim, nao e identidade deslocam, incessantes, os significadosque as constituem,

    reiterando a transposio de sentidos, tempos e espaos. O espao dote

    relao com o espao geogrfico, manifesta-se na fragmentariedade defalas e vozes,

    assim como a do imaginrio constituinte de um territrio em suamltipla discursividade.

    A Amrica Latina e a cultura latino-americana, nesse universomultidimensio

    integraes supranacionais, apresentam as condies de desencadearquestes que

    destroem seus prprios limites frente a novas redes doplaneta.

    2.2 Limiares da in/excluso

    Este segundo tpico, da primeira parte da tese, buscar revisitaro

    conceito de excluso e estudar as relaes entre tal conceito eas

    antologias Gerao 90 - manuscritos de computador

    Nelson de Oliveira e Antologa del cuento latinoamericano

    de Julio Ortega.

  • A excluso social uma questo poltica. H muitos tipos de excluso,todos estamos

    excludos de algo. Etnias inteiras esto impossibilitadas deencontrarem seu caminho e

    viverem alimentadas, vestidas e saudveis. O preso est excludo davida fora do

    presdio, enquanto, e, ao mesmo tempo, a maioria da populao, ereferimo

    especificamente, latino-americana, est excluda do direito aocio, ao lazer ou

    educao. O desempregado est excludo do trabalho, mas otrabalhador tambm est

    sujeito a muitas excluses. Excluses que se refletem na baixaqualidade do seu

    trabalho, na falta de voz, no desrespeito a seus direitos comopessoa e cidado... Para

    que a noo de excluso ajude nossa anlise dos fenmenos sociaise,

    particularmente, dos temas de identidade, desigualdade oumarg

    Literatura, sua discusso deve trazer uma nova perspectiva, umnovo entendimento.

    Vemos dois aspectos bsicos na noo de excluso, freqentementedesapercebidos,

    mas particularmente teis. O primeiro aquele que une dimensesdistintas da

    desvantagem, que, de alguma forma, no deixam de relacionar

    econmica, que exclui os indivduos dos bens, dos servios bsicos,da terra, do

  • mecanismos, em particular, que atuariam como foras de(des)igualizao. Dois deles

    classificados como econmicos, oportunidade e produtividade d

    que estaria sob o domnio da poltica, medidas e instituiessustentadas pelo poder

    estatal, e o quarto um mecanismo sociocultural, isto , acomunicao, operando

    atravs da dissuaso de identidades e valores. Ou seja, essesm

    globalizao, envolvem estruturas de oportunidades mais amplas ede comunicao

    extensas, e, paradoxalmente, relacionam-se com a desigualdade,pois, lgico, atuam

    de modo diferente ao longo do eixo in/excluso. Ou seja, agloba

    encarada como a possibilidade da distribuio des/igual derecursos, direitos e

    ideologias, isto , simultaneamente, pode ser um aspectoin/excludente do sistema

    social, com efeitos mltiplos sobre a desigualdade, difceis deserem delimit

    Tambm para Jos Mara Gmez (1999, p.128-179), a globalizao deveser

    equacionada como uma mistura de processos contraditrios,produtores de conflitos e

    novas formas de poder, cuja vertente negativa estaria em ampliaro fosso entre

    excludos e includos e engrossar o fenmeno da excluso social eespacial. Tendo

  • afirma Therborn (1999, p.91), a histria moderna da economiamundial atesta uma

    diversidade de trajetrias e resultados, incluindo fortestendncias polarizantes. Ainda,

    nas palavras do autor: Globalizao no significa necessariamenteintegrao global.

    Pode tambm significar polarizao global. (THERBORN, 1999, p.91).Cremos que a

    leitura sociolgica do conceito de globalizao, desigualdade eexcluso, tanto de

    Therborn como de Jos Mara Gmez, sustenta nossa ab

    medida em que podemos, sim, tomar a globalizao no s comoprocesso de

    comunicao interativa, em princpio democrtica, mas,contraditoriamente, como a

    globalizao de novas formas de estratificao, passando pelosvariados mapas

    desigualdades, pelas diversas formas de excluso, pelafragmentao, enfim.

    O segundo aspecto a se acentuar a idia de processo, ou seja, aexcluso como

    resultado de processos sociais que impedem o acesso aos benssocioeconmicos e

    que permitem a interveno de grupos sociais que excluem o Outro.Isto , a

    excluso, por sua natureza relativa, um processo e no uma condio,no sentido de

    que, dependente de juzos de valor, isto , dependente do olhar doOutro,

  • sentido, a excluso processo paradoxal e traria em si umadificuldade maior de

    reintegrao. Para analisar, pois, a relao entre a Literatura e aexcluso social, o

    ponto de partida parece-nos que deve ser no a excluso, mas aincluso, an

    interconexo entre os dois conceitos: in/excluso.

    No h sentido em se falar de excluso sem considerar o significadoda integrao. E

    mais, no evidente que a incluso seja alguma coisa indispensvel,impretervel ou

    mesmo desejvel. Depender dos termos dessa incluso, da naturezada sociedade, de

    sua ideologia e estrutura.

    A sociedade, ao delegar papis aos cidados, procura de algum modorestringir sua

    conduta e cercear suas possibilidades. Espera-se, assim, que umprofessor, um

    mdico, um escritor cumpram o seu papel social. Conforme ThomasSzasz (1980,

    p.192), as pessoas podem ser restringidas de dois modos bsicos:fisicamente,

    confinando-as em celas, hospitais psiquitricos e assim pordiante; e simbolicamente,

    confinando-as em ocupaes sociais. Parece-nos que, na verdade,essa restrio

  • A essa altura, faz-se necessrio refletirmos um pouco mais sobrea relao entre a

    excluso social na Amrica Latina e a excluso da prpria AmricaLatina, no contexto

    mundial. Vimos que a excluso, como processo, impede o acesso degrupos ou

    indivduos a posies que lhes permitiriam uma existncia digna eautnoma, dentro

    dos padres sociais, determinados por instituies e valoresinseridos na sociedade.

    Mas no h como impedir uma reao a esse estado de coisas que fazcom que os

    limites da in/excluso mantenham-se sempre mveis. Assim, excludose includos

    revezam-se nesse processo, ao longo do tempo, dependendo dasprticas ou polticas

    socioculturais da sociedade em que esto inseridos, ainda que umadas caractersticas

    primaciais da excluso social seja, justamente, a dificuldade dereintegrao.

    O espao brasileiro e latino-americano, como um todo, possui umacosmoviso cuja

    raiz o identifica como espao espoliado. Essa espoliao mostra umasrie de

    sintomas, presentes nos textos: quadros de carncia, indivduosm

    adultos alijados da ordem social. Quadros que expressam adilatao de uma doena

    moral e/ou social que evolui, faz-se visvel, principalmente, nosgrandes centros

    urbanos, engrossando o grupo de excludos, incrementando ofenmeno da

  • democracia social. Digamos, ainda, que poltica democrtica seriaaquela com ampla

    representao do indivduo e exercitada em ambiente de liberdade, eque sociedade

    democrtica seria aquela em que as desigualdades (sociais,econmicas, culturais,

    educacionais, regionais etc.) so reduzidas e na qual h uma amplamobilidade das

    fronteiras sociais ou territoriais. Suponhamos, ainda, que

    excluso da Amrica Latina seja, a princpio, um processo dereleg

    de desvaloriz-la no quadro geral das naes.

    Entretanto, partindo dessas suposies, que parecem ser a verdadena qual se

    acredita em menor ou maior escala, mas tomando como referncia aproduo literria

    dos ltimos anos, h que se dizer que, em tese, dela emerge umaespcie de produo

    de identidade como processo consciente e no mais algo que pareahaver

    acidentalmente, nos textos. E, se assim o , essa produo deidentidade, como

    processo consciente, teria sofrido alteraes, a partir dos ltimosanos do sculo XX,

    como defesa ante a padronizao mundial, ante os esteretipos quese lanam sobre a

    Amrica. O territrio fsico, aquele todo do qual falvamos, que pormuitos anos se

  • excluso, de uma irrelevncia, construda na ordem do imaginrio,que se contrape a

    uma reao, a um desejo manifesto de rivalizarmos e sermosimaginados, ou sermos

    vistos, ou reconhecidos tambm como Primeiros. Todos essesmovimentos acabam

    por dar a iluso do esttico; iluso, posto que a vontade sempremobilizou a cultura

    latino-americana. Ou seja, paradoxalmente, essa irrelevncia quenos d espao para

    a resistncia e a sobrepujana. Pensemos, por um lado, nainstabilidade militar e

    poltica dos pases andinos, por exemplo, nos distrbiosfinanceiros e sociais da

    Argentina, e, por outro lado, nas incertezas sobre o Mercosul ea ALCA, ou no caos

    urbano de nossas grandes cidades. Tudo concorreria para realar,num primeiro

    momento, um plano da hegemonia da Amrica do Norte, o poder daUnio Europia, ou

    mesmo dos pases asiticos. Em contrapartida, vejam-se os momentosde vitria dos

    nossos pases: desde o xito do modelo econmico chileno, passandopelo livre

    comrcio entre Mxico e EE.UU., a virada de mesa da Argentina e atmesmo o

    domnio do futebol brasileiro. Em cada um desses episdiosvitoriosos, nossos pases

    se apresentariam como partcipes de um Primeiro Mundo. Existe,sim, em cada uma

    das referidas situaes, aquele toque de narcisismo e arrognciatpicos dos que detm

    o poder. Ou seja, foras contraditrias ou movimentos paradoxaisde in/excluso

  • De maneira que essas necessidades reacionrias nos dariamconscincia de nosso

    terceiromundismo, o que , paradoxalmente, frutfero eenriquecedor, j que funciona

    como um impulso secreto de sermos imaginados, vistos, reco

    considerados os primeiros, destacando-nos do resto. Impulso que,se por um lado,

    funciona como motor, por outro e ao mesmo tempo, representa,contraditoriamente, um

    lastro ideolgico que arrastamos sem descanso. Entretanto, essemesm

    terceiromundismo resulta tambm do fato de imaginarmos como oOutro nos

    imagina; e, em se tratando de Europa ou EE.UU., ns os terceirosdo Ocidente os

    invejamos em seu jogo de represso. Essa a tenso que pareceemergir de nossa

    produo literria representaes no do fim mas da relativizao de umaera

    traumtica de excluso da Amrica Latina, ou seja, de processos queconfiguram o

    paradoxo nas relaes de poder e subjugo.

    No Brasil, da mesma forma, vemos uma reiterada exposio de umasitua

    desmedida, atravs da nfase na dificuldade de determinar a prpriadimenso da

    in/excluso, a partir da insero brasileira num territrio global,marcado por uma

    instabilidade sistmica. Os traos mais caractersticos dessa praxede resistncia

  • criao verbal estimulada ou impulsionada pela ao/rea

    marginalizao, da represso e, em decorrncia, da violncia,buscando verificar, nesse

    contexto, como os in/excludos, em seu cotidiano, so re

    latino-americana do fim/incio do sculo/milnio; uma po

    tomar essas narrativas como construtoras de espaos, ou, na acepode De Certeau,

    como lugares praticados (1999, p.202)10 a traduzirem amultidimensionalidade dos

    fenmenos sociais, a estabelecerem a mobilidade dasfronteiras

    imagens caleidoscpicas e paradoxais de um territrio latino

    com o contexto da globalizao.

    Assim, narrativas que dem enfoque a setores marginalizados nosajudaro a

    aprofundar-nos no universo enunciativo da in/excluso e dasformas de que se reveste,

    no interminvel jogo de relaes entre a fico e a realidade, aHistria e a histria

    Da o sentido da escolha de narrativas que demonstrem processosin/excludentes de

    tomada ou de negao do poder: loucos, dissidentes, alijados,delinqentes,

    desempregados, confinados em sua condio, em um jogo de exclusoe/ou de

    resistncia.

  • contemporaneidade, na e sobre a Amrica Latina. Foi quandopercebemos que no

    poderamos tratar a temtica aqui proposta, apenas sob o pontod

    como sempre a havamos entendido. Atravs do conto contemporneo,comeamos a

    perceber que um outro panorama da Literatura latino-americanaatual parecia se estar

    esboando. Muito nos custou selecion-los, tal a variedade ecomplexidade

    questionamentos. Mas, se no possvel falarmos de um acesso doconto ao real,

    pelo menos podemos afirmar que o gnero delineia um esboo doreal. Referimo

    a esboo, como sonho, conforme Piglia (2004, pp.44

    qualquer outro discurso, o conto, microscpica mquina narrativa,na acepo de

    Piglia, captura retratos/leitura do real, evidenciando o jogoverdade/fantasia que

    permeia todo e qualquer texto. Os cultivadores desse gnero, essemosaico de

    escritores, preocupam-se no s com o real, mas com a forma pelaqual tentam

    esbo-lo e, assim, com alguma interseo na postura literria, masto diversos

    quanto s narrativas e aos espaos que representam, conformam asantologias.

    Diversidade esta que parece mesmo ser a protena condutora.

    As antologias excluem, mas deixam textos mltiplos a indiciar oslugares de enunciao

  • 2.3 Ir/realidades e re-a-presentaes

    Este terceiro tpico, da primeira parte da tese, retomar a questodo

    interminvel jogo de relaes entre a fico e a realidade, a histriae

    a Histria, para revisar tais relaes na leitura dos contosselecionados

    de Gerao 90 manuscritos de computador os melhores contistas

    brasileiros surgidos no final do sculo XX e Antologa d

    latinoamericano del siglo XXI las horas y las hordas

    A linguagem e a vida so uma coisa s.

    oportuno, a essa altura, refletir sobre as relaes entre fico erealidade, histria e

    Histria e suas ligaes com nossa pesquisa, o que, entretanto,implica que no

    pretendemos e, nem poderamos dar conta, exaustivamente, de seusaspectos

    virtude da variedade de estudos crticos acerca de fico erealidade ou Literatura e

  • Os discursos literrio e histrico tm tido um relacionamentoconflituoso desde os

    clssicos, quando Aristteles (1996, p.39), comparando amatria

    a do poeta, ao mesmo tempo em que os tomava como histria,paradoxalmente j se

    empenhava em situar fronteiras entre um e outro, pontuando queNo em metrificar

    ou no que diferem o historiador e o poeta; a obra de Herdotopodia ser metrificada;

    no seria menos uma histria com o metro do que sem ele; adiferena est em que um

    narra acontecimentos e o outro, fatos que podiam acontecer.

    No sculo XVI, Miguel de Cervantes (1547-1616), tamb

    relao entre tais discursos, assim se posiciona:

    Una cosa es escribir como poeta, otra como historiador: el poetapuede contar o cantar las cosas no como fueron, sino como deberanhaber sido, mientras que el historiador debe relatarlas no comodeberan haber sido sino como fueron, sin aadir o restar lo que seade la verdad. XVIII)

    Pelo exposto, a idia presente a de que a Literatura pode serlida como uma realidade

    mentirosa, sem a obrigao de associ-la a uma realidadeverdadeira.

    XVIII, a mesma idia se mantm. Surgem a Histria, disciplina, e otermo romance.

  • Percebemos, pois, um dos problemas e aproximaes nas relaes

    discursos: o modo como se narra. Tanto assim que, no incio doverbete da

    Enciclopdia, Voltaire definiu a Histria como relato. Nessesentido, no mnimo

    paradoxal que, a partir do sculo XVIII, especialmente na Frana,comece a existir

    preocupao em definir Histria para alm de uma estruturanarrativa, contrapondo

    fbula (ou fico) e vendo, na Histria, a verdade e, na fbula, amentira.

    1994; MIGNOLO, 1993)

    Mais adiante, o sculo XIX iria marcar-se pela crise soci

    capitalista excludente, em vigor, e pelos desgnios da cinciapositivista

    sentido, o sculo XIX, no por mera coincidncia, de sumaimportncia para a

    compreenso da tendncia realista na Literatura contempornea.As

    discursivas, poca, passam a se manifestar pela preocupao com overossmil e/ou

    pelo desejo de imparcialidade. Sejam elas histricas ouliterrias, as narrativas, tendo

    como base o cientificismo e a objetividade da filosofiapositiva

    discurso determinista, isto , submetido a leis imutveis etentam, em vo, construir

    uma narrativa neutra, documental e verdadeira16.

  • Imersa nesse controvertido e vasto repertrio conceitual, acrtica especializada, desde

    Aristteles, no deixou de discutir a complexa e imprecisa

    realidade. Assim que, no sculo XX, sobretudo nas ltimas trsdcadas, Literatura e

    Histria, fundadas nesse campo epistemolgico, ganham maisconsideraes e as

    ambigidades se avultam.

    Todorov (1971, p.212) ir revelar sua hesitao: Como isolar odomnio do que

    propriamente literrio, deixando psicologia e histria o que lhespertence? No que

    se refere narrativa literria opina que ela histria, no sentidoem que evoca uma

    certa realidade, acontecimentos que teriam ocorrido, personagensque, des

    vista, se confundem com os da vida real. Acrescenta que, aomesmo tempo em que a

    obra literria Histria, ela discurso, pois existe um narrador querelata a histria; h

    diante dele um leitor que a percebe e que neste nvel no so osacontecimentos

    relatados que contam mas a maneira pela qual o narrador nos fezconhec

    (TODOROV, 1971, p. 213-214), o que nos parece o apropriado. Damesma forma,

    referindo-se Histria, afirma que esta uma conveno, isto , noexiste ao nvel

    dos prprios acontecimentos. Para o autor, a Histria seria umaabstrao pois ela

  • Conforme Todorov (1971), o objetivo da Histria, o fato histrico,acontecido

    precisamente num determinado tempo e lugar. De modo que aHistria no pode fugir

    [do fato histrico] e a ele se dirige atravs dos documentosescritos e monumentais, os

    vrios testemunhos da ao humana atravs dos tempos e lugares. ,portanto, uma

    cincia [...] (TODOROV, 1971, p.215).

    Portanto, com base no que vimos, vrias vezes confirma-

    presente na impossibilidade de delimitar fronteiras entre osdiscursos, de maneira que,

    pisando terreno to movedio, s podem mesmo teimar em surgir umsem nmero de

    dvidas e paradoxos. Devemos salientar, pois, que o narrar fatosverdadeiros necessita

    da definio de verdade, porm a verdade se mostra multifacetada.Vale lembrar

    Foucault (1999) para quem a verdade de um fato no existe em si;todas as

    interpretaes j so criaes, no havendo, pois, uma nica realidadedos eventos, ou

    dos discursos, certa e imparcial.

    Nesse caminho, quando se faz referncia mimesis em Literatura,Pa

    p.90) argumenta que se tende a traduzi-la como imitao no sentidode cpia de algum

  • concebemos neste trabalho, isto , pela ausncia do mimtico,enfim, pela cons

    de superao de uma verdade ou realismo absoluto. Da mesma forma afotografia,

    supondo a exatido de um instante, por um lado, varia conforme acena, o

    enquadramento, a luz e/ou o foco, e, por outro, presta-se a umaamplitude de re

    presentaes, possibilitadas pelas modernas tcnicas de manipulaode imagens que

    abandonam, completamente, o discurso fotogrfico, baseado nacaptao de imagens

    reais. A Histria e a Literatura so mais uma entre as opes quepodem dar sentido

    realidade, mediatizada, no caso, pela produo discursiva. Ouseja, apoiadas sobre

    seus mtodos, mas, como discursos que so, apresentam, atravs daescrita, a

    narrao de um acontecimento, a partir de um ponto de vista.Assim, ainda que um

    acontecimento narrado permanea o mesmo acontecimento, ele nuncaseria a mesma

    coisa, independentemente do tipo de narrativa que ore-a-presenta.

    Fato que o termo representao se afeta por uma certa polissemia,que remonta s

    reflexes aristotlicas, em que a referncia mimesis, como imitao,exige distino

    entre o modo de representao dramtica (a tragdia, por exemplo) eum modo de

    representao narrativa (a epopia). Entretanto a representao deveser entendida em

  • do verdadeiro (WHITE, 1994, p.115), deveramos atender a seucarter fragmentrio,

    dada a multiplicidade de leituras da realidade que taisdiscursos so capazes de

    proporcionar. A concepo do fragmento ou da multiplicidade podeser sentida,

    do que at o momento foi exposto. Nesse vasto caleidoscpio deambigidades e

    correlaes, parece mesmo inevitvel que se enfrentassem e seenfrentem dificuldades

    na consolidao de limites entre os discursos e, por isso mesmo,modestamente,

    gostaramos de pensar que, em vez de tentar delimitar fronteiras,o que importa no

    deixar de discutir como a Literatura se relaciona com arealidade,

    com o contexto histrico, no qual se formula, e que funo social,n

    cumpre na sociedade qual apela.

    Para tanto, preferimos nos valer das formulaes de Hayden White(1994) que,

    comparando Histria (ou realidade) e Literatura (ou fico), embaouseus limites, ao

    propor que os trpicos discursivos de ambas so os mesmos. Assim,a Histria em

    White foi vista, sobretudo, como narrao (cf. VOLTAIRE,

    nenhuma narrao, como dissemos, reproduz o que realmenteaconteceu, mas to

    somente o representa de um ponto de vista particular.

  • de discursos narrativos, de uma realidade objetiva. Por maisficcional que possa ser o

    texto histrico, sua pretenso ser uma representao da realidade,diria Ricoeur (1994,

    p.88), e o mesmo se aplica do texto literrio. Desse modo, adiscusso sobre o que

    Histria e o que Fico se apequena, no primacial; ao contrrio,diversos discursos

    de natureza factual ou ficcional complementam-se com o objetivode representar, cada

    um de acordo com seus cdigos, a realidade manifesta. Nessesentido, se a Literatura

    pertence categoria do discurso relativo ao imaginado e a Histriado discurso

    baseado no real, no importa tanto, mas a escrita, presente emambas, que d

    significado aos acontecimentos. Estes so reais no porqueaconteceram, mas porque

    so lembrados e representados, por diferentes olhares, atravs dediferentes narrativas.

    Assim, as possibilidades disponveis de explorao dosacontecimentos so infinitas.

    Cada fato representado segundo uma perspectiva. O ponto de vistaest sempre

    presente e assim, conforme Foucault, no h nenhum discurso,nenhuma representao

    especfica, cientfica ou no, capaz de explic-los ou traduzi

    considerada como possvel e verdadeira. A verdade plural e asnarrativas, literrias ou

    histricas, so discursos polissmicos, abertos a novos olhares e,sobre os quais, so

    reescritos outros, sempre provisrios, em uma cadeia infinita, oque no nos impede,

  • interior do contexto sociocultural. Acreditamos que todadiscusso acerca das

    (H)histrias, desde Aristteles, j mencionado, apenas serve paracomprovarmos que

    os fatos histricos carregam marcas do imaginrio e os fatosficcionais possuem

    plausibilidade histrica. Entretanto, atendendo s

FAQs

What is the ranking of Pontifical Catholic University of Minas Gerais? ›

Rankings & ratings

Pontifícia Universidade Católica do Minas Gerais is one of the top private universities in Belo Horizonte, Brazil. It is ranked #1401+ in QS World University Rankings 2023.

What is the ranking of Pontifical Catholic University of Paraná? ›

It is ranked #1201-1400 in QS World University Rankings 2023.

What is PUC Rio ranked in QS? ›

University Rankings and Student Reviews

The rating for universities is only calculated after we have collected at least 10 ratings. Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUC-Rio) is ranked 601 in QS World University Rankings by TopUniversities.

What is the Pontifical University of Rio? ›

Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro, commonly known as PUC-Rio, is a private non-profit Catholic University created in 1941 with the mission of producing and transmitting knowledge based on humanistic values and Christian ethics.

What is the number one Catholic university in America? ›

Georgetown University

#1 Best Catholic Colleges in America.

Is PUC Minas a good university? ›

We are one of the top and largest universities in Brazil, recognized by the Vatican as the largest catholic university in the world, and ranked by Times Higher Education as one of the world's top universities.

What is the most prestigious public school? ›

University of California, Berkeley
  • #1. in Top Public Schools (tie)
  • #20. in National Universities (tie)

Are there any Catholic Ivy League schools? ›

Also in the "Catholic Ivy League," and considered by many Catholics to be academically superior to Georgetown, is Holy Cross, in Worcester, Mass. Forty percent of its freshmen still pursue the prized Jesuit A.B. degree.

Does it matter if a university is Catholic? ›

Contrary to what you might assume, Catholic schools don't usually restrict attendance to those of the Catholic faith. In fact, most schools today accept students regardless of their religious beliefs because many institutions have become more inclusive over the past few decades.

Do employers look at QS ranking? ›

Employer reputation (30%)

QS claims to measure where employers recruit the most “competent, innovative, and effective” graduates from. Employers are surveyed and asked to identify the institutions they believe produce the best graduates.

Which is the top ranked city in the QS Best student Cities ranking 2023? ›

Considering a range of factors, such as affordability, desirability and the opinions of current students, the QS Best Student Cities ranking provides an overview of the best places to live and study around the world. This year's ranking is once again topped by London.

Is university of Cincinnati Tier 1 or Tier 2? ›

U.S. News & World Report ranks UC in the Top Tier of America's Best Colleges, including the latest 2023 rankings which placed the university at No.

What university is the oldest Catholic institution of higher learning in the United States? ›

Georgetown University is the oldest Catholic and Jesuit institution of higher learning in the United States. John Carroll's founding of Georgetown College coincides with the birth of our nation.

What is a pontifical degree? ›

The academic degrees conferred by an Ecclesiastical Faculty are the Baccalaureate, Licentiate, and Doctorate. ( Article 47) A canonical degree, also properly called an ecclesiastical degree, is sometimes incorrectly referred to as a “pontifical degree.” Only an Ecclesiastical Faculty may confer canonical degrees. “

Is Catholic University prestigious? ›

Founded in 1887 by Catholic bishops, CUA is not only a pontifical institution but one of the most prestigious liberal arts colleges in the United States.

What is the most respected university in the world? ›

Ranked in the annual THE World Reputation Rankings, the six “global university super-brands” as we have come to call them, fall in the following order in the 2022 edition of the rankings out this week: Harvard in first place; followed by Massachusetts Institute of Technology; Stanford; Oxford; Cambridge and then the ...

What is the biggest Catholic school in the world? ›

The oldest existing university in Asia, University of Santo Tomas, is located in the Philippines. It is the largest single Catholic university in the world. The university was established by the Order of Preachers, also known as the Dominican Order, on April 28, 1611.

What is the largest Catholic Church in the United States? ›

Basilica of the National Shrine of the Immaculate Conception
Length459 feet (140 m)
Width240 feet (73 m)
Nave width157 feet (48 m)
Height329 feet (100 m)
35 more rows

Is DAL a good school? ›

Dalhousie University is ranked #314 in Best Global Universities. Schools are ranked according to their performance across a set of widely accepted indicators of excellence.

How good is Pacific University? ›

Pacific University's ranking in the 2022-2023 edition of Best Colleges is National Universities, #194. Its tuition and fees are $52,072. Pacific University is a private institution that was founded in 1849. It has a total undergraduate enrollment of 1,741 (fall 2021), and the setting is Suburban.

How many Catholic universities are there in the United States? ›

Diverse Education

If you decide to study at a Catholic college or university in the US, you will have a diverse array of schools from which to choose. In the US, over 720,000 students attend 221 Catholic colleges and universities.

Is Catholic university a prestigious school? ›

Founded in 1887 by Catholic bishops, CUA is not only a pontifical institution but one of the most prestigious liberal arts colleges in the United States.

What is the average GPA for Catholic university? ›

Average GPA: 3.46

The average GPA at Catholic University of America is 3.46. (Most schools use a weighted GPA out of 4.0, though some report an unweighted GPA.

What is the largest Catholic university? ›

DePaul University, the largest Catholic university in the U.S., now allows students to self-select their preferred gender identity on the school's online resource portal.

Does Catholic university have a good reputation? ›

The University also ranked No. 87 out of 191 national universities for the best value. U.S. News & World Report also salutes Catholic University (overall rank: #176) elsewhere on its lists for Best Value Colleges, Best Colleges for Veterans, and Top Performers on Social Mobility.

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Author: Margart Wisoky

Last Updated: 02/12/2023

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Name: Margart Wisoky

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